Ano de 1924. Era o início de mais uma das três principais corridas de ciclismo de Grand Tour, o Giro d’Italia. Diferente dos outros anos, faltava a presença de uma estrela mundial. Por jogo publicitário, para promover a corrida ou a conquista de espaço de um atleta, essa estrela iria aparecer. Alfonsin Morini Strada.

Como ocorre nos dias de hoje, foi uma competição difícil, com 12 travessias de montanhas. Todos enfrentaram situações climáticas que faziam seu corpo chegar ao extremo. Ao cruzar a linha de chegada completamente em lágrimas, em um dos estágios,  Alfonsin foi arrastado pela multidão que já tinham se tornado fãs do ciclista.

Fortes chuvas tornaram as estradas lamacentas e muito perigosas. Alfonsin caiu junto com outros competidores em certo trecho e teve sua bicicleta danificada. Mesmo assim tentou continuar, mas foi desclassificado por não concluir o estágio dentro do tempo pré-determinado.

Não se sabe como foi permitido. Mas a essa altura, sabiam que Alfonsin Strada era uma mulher. Sim, uma mulher. Seu nome era Alfonsina Morini Strada ou o “diabo de vestido”, como um jornal a titulou.

Após sua desclassificação, Alfonsina já carregava consigo uma multidão de admiradores. E com o apoio da grande torcida, conseguiu a permissão da organização para permanecer disputando as etapas. Porém, não receberia nenhum tipo de premiação e seu tempo não seria marcado.

Dos 90 competidores que iniciaram, apenas 30 concluíram todas as etapas, totalizando 3.613km de competição. Entre eles, estava lá a brilhante Alfonsina. Mais do que a realização pessoal, seus fãs e torcedores fizeram uma espécie de “vaquinha” que a premiaram com 50.000 libras.

Além de superar inúmeros concorrentes do sexo masculino, também superou seus pais, a sociedade em que vivia e o esporte que amava. Nascida na Itália em 1891, época em que a bike se tornava a “máquina da liberdade” para as mulheres. Aos 10 anos idade, ganhou sua primeira bicicleta e com 13 anos já competia contra seus amigos. Onde era a única menina e também era sempre a vencedora.

Ao se casar, encontrou em seu marido um homem que sempre apoiaria suas decisões em cima de duas rodas. Ele sabia que o espírito esportivo da esposa não terminaria ali, no Giro d’Italia. Alfonsina também competiu o tour da Lombardia e o Grand Prix de St. Petersburg. Depois, veio e quebrou o recorde de velocidade das mulheres, na qual carregou o título por 33 anos.

Graças a Alfonsina e outras tantas mulheres que lutam até o fim por seus espaços, hoje existem corridas destinadas a elas com direito a disputas acirradas. Hoje, dia 01 de julho, marca o início de mais uma dessas belíssimas competições, o 27º Giro d’Italia Internazionale Femminile ou o Giro Rosa que se estende até o dia 10 de julho.

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Fotos: Ilona Kamps