Helena não tinha quase nada. Levanta as 07h00 da manhã com um despertador. “Enfrenta um ônibus lotado com um sorriso no rosto. Já que não tinha nada, também não tinha medo. E vai pra luta como faz um bom trabalhador.”

Após uma manhã corrida chega ao portão. Antes mesmo de interfonar sua presença é percebida. Duas portas de vidro se abrem. Lentamente a jovem passa por uma e em seguida pela outra.

Olha para a salinha com vidros espelhados e com um sorriso no rosto cumprimenta quem permanece por ali. Segue o corrimão e ao entrar no térreo dá de cara com o elevador.

Pressiona o botão. Em poucos minutos a porta cinza se abre. Ainda do lado de fora Helena dá de cara com seu maior obstáculo. Um espelho, que ocupa uma parede, reflete sua própria imagem.

A porta se fecha. Pensa em seu trabalho, estudos, na família e nos desafios que ainda precisa enfrentar. Em poucos segundos o elevador se abre no quarto andar. Alguns passos para a esquerda na diagonal e está ali. Apartamento 42.

Pra ela, o melhor lugar para se estar. Quase num ritual, gira a maçaneta da porta. Entra. Coloca a bolsa na cadeira e prepara um cappuccino. Se aconchega no sofá de modo que a sacada permaneça em sua vista. Num olhar profundo para o nada, tentar organizar seus pensamentos.

Apesar dos conflitos e dos questionamentos sempre tomarem mais espaços na sua vida, Helena sempre desejou um mundo em que coubessem todos os seus sonhos.

O 42 tem sido suporte para sua vida. Ali transborda sonhos. A jovem se refugia dos desastres do mundo. Resolve seus conflitos. Organiza e planeja sua vida. Recupera-se das angústias. Assiste aos programas de TV preferidos e dá gargalhadas nunca dadas.

Ali Helena encontra paz de espírito. Encontra seus medos e se liberta deles. Ou de quase todos eles. Nos dias turbulentos, a jovem se refugia ali. E organiza os nós da cabeça. Toda vez é assim.

Tudo se resolve em uma tarde ou um final de semana passado no 42. Se resolve, até ela ter que enfrentar os leões que a esperam lá fora e precisar voltar ao apartamento. “E mesmo não tendo nada. A jovem tinha dentro da alma muito conteúdo. E mesmo não tendo nada ainda tinha fé”.

No fundo Helena sabia que ela vivia um grande sonho. E que os obstáculos eram pra testar o quanto ela aguentava permanecer em pé!

Crédito foto: Rayza Nicacio