Existem dois tipos de pessoas. As pessoas com mais coisas que tempo e as pessoas com mais tempo do que coisas para fazer com o tempo.

As pessoas com menos tempo do que coisas para fazer são as que, na espera de um ônibus lotado, pisam nas outras para entrar primeiro, reclamam da demora por terem que esperar 15 minutos para ser atendida no banco, buzinam para o trânsito andar mesmo com o sinal vermelho e enumeram coisas que precisam lembrar para fazer no dia, mesmo não conseguindo pegar a lista por falta de tempo.

Esse é o caso dele. Ele nunca entendeu o tédio, essa impressão que tem mais horas do que coisas para fazer. Sempre faltou tempo para muitas coisas. Para ler um livro, assistir um filme, arrumar o guarda roupa ou parar para se deliciar com a playlist preferida no deleito do quarto.

Já ela, sempre pertenceu ao segundo tipo de pessoa. Sempre teve tempo de sobra, por isso sempre leu romances longos e assistiu pela milésima vez os capítulos da série preferida. Mas, por ter tempo demais, acabava sobrando tempo para se preocupar com as possíveis doenças na velhice, para rabiscar longas cartas imaginárias para o ex-namorado e reclamar do calor que, mesmo estando estática, fazem seus pés e mãos transpirar.

Ele vivia contra o tempo, em sua vida cronometrada regrada pelo ciclo notório de trabalho. Ela vivia a reclamar do tempo e cansar do tempo, por ter tanto tempo.

Quando se conheceram, ele percebeu que não adiantava correr atrás do tempo porque ele sempre vai correr mais rápido e ela percebeu que às vezes é bom correr para pensar menos, e pensar menos é uma maneira de ser feliz. Ambos perceberam que a felicidade é questão de tempo. Questão de ter tempo o suficiente para ser feliz, mas não tanto tempo para pensar que essa felicidade não faz o menor sentido.

Crédito da foto: Blog Freescura