Sua companheira se foi há sete anos. Desde então tudo mudou. Sua casa
vivia sempre cheia. A presença dos filhos era constante. E os netos,
ainda pequenos, corriam de um lado para o outro.

A casa não muito grande comportava a todos. Se o numero crescesse ainda
teria espaço. Sempre acolhemos assim quem amamos. Às vezes era tanta gente que a varanda, a sua calçada e do vizinho, e parte da rua também acabavam fazendo parte da casa. Tudo para acomodar todo mundo.

Quando ela se foi tudo mudou. As ausências eram cada vez mais
presente. Ainda couberam todos, mas eles já não queriam caber. Dia após
dia a casa se tornou cada vez mais vazia.

Só restaram os móveis e ele. Nada fazia mais sentido. Já de cabelos
brancos. Aposentado. Inutilizável.

A casa que ficava o tempo todo bagunçada na presença dos netos, agora
permanecia intacta. Tudo estava no seu devido lugar. Talvez com um
pouco mais de poeira. Mas intacto. Assim como ele desde que ela se foi.

Os filhos aparecem de vez em quando.  O churrasco de família aos
domingos agora são feitos nas datas comemorativas do ano.  Os passeios mais longos são em volta do quarteirão.

Ter uma bela carreira profissional, escrever livros e ser bem sucedido. Nada disso importava. O dia era rotineiro. Mesmo sem nada para fazer, ainda insistia em levantar as 6h00 da manhã e fazer o café passado no coador de pano. Como ela fazia.

Os dias mais agitados são de lembranças. Coloca os discos de vinil na vitrola e faz mais um café ao som de alguns blue jazz. Tudo que ele fizesse não ia mudar o fato de estar sozinho. Quase abandonado. Nada importava mais para ele do que falta da presença dela.

Crédito da foto: Blog Corpografismo